Estima-se que existam hoje no mundo pouco mais do que 7 mil idiomas. Mas há muito mais se levarmos em conta que cada área do conhecimento humano constitui um idioma próprio, uma linguagem única, com milhares de expressões linguísticas e notações próprias, equações, formulações, jargões, conceitos.

Um físico falando de física quântica com um colega irá necessariamente recorrer a um universo próprio de conceitos e formulações só acessível aos especialistas. Vale o mesmo para um psicanalista lacaniano. Se usar linguagem técnica, ele só será entendido pelos seus iguais. Assim é o mundo, cada vez mais complexo e inacessível na sua totalidade.

Somos capazes de acessar uma parcela muito pequena desse excepcional acervo de conhecimento desenvolvido ao longo de gerações. E nem é preciso ir tão longe. Há cada vez mais especialistas em áreas reduzidíssimas do conhecimento. Há experts no funk carioca e na teoria das cordas, que pretende unificar numa única estrutura matemática a física clássica, a Teoria da Relatividade e a Física Quântica.

É fundamental que a sua equipe saiba traduzir a sua empresa para os seus clientes e potenciais clientes.

Para os propósitos deste artigo, o que conta mais, nesse contexto, é entender que essa complexidade universal vale também para o mundo corporativo. As empresas são cada vez mais estruturas de alta complexidade. Desenvolvem produtos e serviços sofisticados e de difícil compreensão para o público leigo, que somos todos nós.

Como explicar um carro elétrico para um potencial cliente? Como explicar aos consumidores como funciona determinada plataforma de comércio eletrônico? E os produtos financeiros, de infinita complexidade, como traduzi-los para o futuro cliente?

Para reduzir a barreira que nos separa dos assuntos técnicos, precisamos cada vez mais de TRADUTORES, de profissionais que consigam fazer a transição da linguagem técnica dos especialistas para a linguagem aberta de todos os demais. Os jornalistas e os meios de comunicação cumprem bem essa função. Mas o fato é que só eles não bastam.

É preciso que cada um de nós transforme-se num TRADUTOR capaz de explicar ao público o que faz. É fundamental que a sua equipe saiba traduzir a sua empresa para os seus clientes e potenciais clientes. E traduzir a empresa é o mesmo que explicar para que servem seus produtos e serviços, explicar como eles funcionam e como podem ser acessados.

O trabalho de tradução envolve sempre construir uma NARRATIVA CONVINCENTE, ATRAENTE, MOBILIZADORA, INTELIGENTE sobre o que a empresa é, o que faz, quais são os seus valores, produtos, serviços. Esse é talvez o maior desafio das organizações contemporâneas.

Muitas empresas parecem, no entanto, não compreender essa nova realidade. Seguem aferradas ao mundo industrial do século 20, em que as companhias falavam apenas através dos seus produtos ou da publicidade de massa.

Hoje tudo isso mudou. Empresas precisam desesperadamente de comunicação. Precisam urgentemente aprender a comunicar-se. Precisam fazer com que o público compreenda o que ela faz, o que produz, que serviço oferece.

Empresas precisam desenvolver uma voz própria, humana, calorosa, afetiva, capaz de compreender as demandas do público, de compreender até as dores do público, do cliente. Quem não fizer isso, quem não realizar esse trabalho de comunicação, correrá o risco permanente de um ataque especulativo e massivo que pode vir de qualquer lado.

A gente vê isso acontecer com frequência. Empresas enormes, que oferecem produtos e serviços altamente relevantes, podem ser repentinamente jogadas no circo das redes sociais e nas esferas judiciais por um erro qualquer, ficando à mercê da fúria coletiva. Tudo fica pior quando a empresa é desconhecida do público e da mídia.

Empresas precisam desesperadamente de comunicação. Precisam urgentemente aprender a comunicar-se. Precisam fazer com que o público compreenda o que ela faz, o que produz, que serviço oferece.

E tudo fica mais amenizado quando a empresa envolvida em algum erro, real ou suposto, é conhecida da mídia e do público por sua atitude cautelosa em relação à sociedade, por sua postura ética, pela seriedade com que atua, pela boa qualidade de seus produtos e serviços.

Ou seja, a boa reputação funciona como uma espécie de seguro, de rede de proteção. O desejável é nunca utilizá-la. Mas se necessário ela está lá, funcionando ativamente.

Que tal dar início já ao incrível desafio de traduzir a sua empresa para o mundo?

Imagem: metamorworks/iStock.com