Empresas cometem suicídio? É o que parece quando se analisa o caso de grandes corporações como Petrobras, Samarco, Siemens e Volkswagen, que parecem ter cometido “roleta russa” – e acertaram!
Seja qual for o ramo, produto ou serviço que oferece à sociedade e ao mercado, uma empresa, entidade ou organização civil vive de sua reputação, do prestígio de que desfrutam os seus produtos e serviços. Reputação e credibilidade constituem assim atributos indispensáveis a quem queira manter-se vivo e pujante, com boas perspectivas no presente e no futuro.
E isso vale para todos, sem distinção. Vale para empresas que negociam bens e serviços. Vale para entidades civis e organizações sem fins lucrativos. Vale para entidades empresariais e sindicais. Vale para governos e para todos os demais poderes públicos, inclusive o Judiciário. Vale para pessoas físicas e personalidades públicas.
Reputação e credibilidade constituem assim atributos indispensáveis a quem queira manter-se vivo e pujante, com boas perspectivas no presente e no futuro.
Helvio Falleiros
O fato é que não dá para viver sem reputação e credibilidade. Não há vida longa para quem descuida da sua imagem pública, da sua marca. Apostar contra a inteligência do consumidor, faltar com a verdade e ignorar regras legais e éticas são práticas danosas para a imagem pública de pessoas e empresas. Quem as comete pratica roleta russa e arrisca-se a acertar um dia…
A Volkswagen que o diga. A empresa conseguiu “acertar” na roleta russa criando um software cuja finalidade era falsificar resultados que envolviam o controle da emissão de poluentes de motores diesel para carros produzidos pela empresa e distribuídos pelo mundo, principalmente nos Estados Unidos (EUA). Foram 11 milhões de veículos que nasceram com esse “defeito” de fábrica.
Apostar contra a inteligência do consumidor, faltar com a verdade e ignorar regras legais e éticas são práticas danosas para a imagem pública de pessoas e empresas
Helvio Falleiros
Responsável pela mensagem “Das Auto” (O Carro), a VW terá agora que gastar recursos do “cheque especial” e da credibilidade conquistada ao longo de décadas de atuação correta para tentar recuperar-se dessa incrível derrapada.
Quem também acertou na roleta (russa) foi a Petrobras, com o mais monumental escândalo de corrupção da história brasileira. O resultado desse imbróglio é que o valor de mercado da empresa caiu 85%. A estatal valia 510 bilhões de dólares em 2008 e passou a valer 74 bilhões de dólares em 2016. Terá futuro?
A descoberta pela Justiça do envolvimento de grandes empreiteiras e de grandes empresas de infraestrutura nos desvios bilionários que afetaram as estatais brasileiras pôs a nu a inexistência efetiva de conceitos e práticas de compliance e governança corporativa no âmbito desses enormes conglomerados empresariais.
Essas empresas colocaram assim a sua própria existência em risco. Que restará delas no futuro? Terão força para reconstruir seu patrimônio simbólico, a sua marca? Ou irão sucumbir às deletérias e amadoras práticas levadas à frente por seus diretores e sócios?
É pensar no assunto “comunicação, reputação e marca” muito antes de instalada qualquer crise ou até mesmo para evitá-la.
Helvio Falleiros
Não se trata, naturalmente, de algo restrito ao Brasil. Há inúmeros exemplos, recentes, de problemas envolvendo grandes companhias internacionais, que foram flagradas pela Justiça adotando práticas ilegais ou anticoncorrenciais.
Envolvida em alguns escândalos pelo mundo, a Siemens fez mudanças radicais. Demitiu centenas de diretores e passou a adotar rígidas normas de compliance e governança corporativa. E a razão é uma só: a sobrevivência da empresa estava em risco.
Outro caso recente de tentativa de suicídio empresarial envolveu a mineradora Samarco. Com a ruptura da barragem do Fundão em novembro de 2015, que continha rejeitos de mineração, a empresa assistiu, perplexa, à descida de monumental volume de lama ao longo rio Doce, em direção ao mar salgado, que levou com ela a imagem pública da empresa. Desespero total. Silêncio. Perplexidade. E a opinião pública, enfurecida, exigindo providências imediatas e respostas objetivas para a tragédia.
Procurar ajuda nesse momento é o mesmo que procurar o médico depois de ter a doença instalada. Talvez seja muito tarde, como parece ser o caso da Samarco e talvez o da própria Petrobras. O melhor a fazer, sabemos todos, é o trabalho preventivo. É pensar no assunto “comunicação, reputação e marca” muito antes de instalada qualquer crise ou até mesmo para evitá-la.